quarta-feira, 5 de outubro de 2011

SITUACIONAUTAS #5 - Belo Horizonte

Inventando Situ-Ações Interventivas/Investigativas e Navegando por Trajetórias Entre Signos no Espaço Público Urbano.

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Situ-Ação 1 - HOMO CONSUMIBILIS

Na performance HOMO CONSUMIBILIS os performers atravessam um mar de produtos (Minas Shopping) carregando entre os dentes vários cartões de credito. O cartão de crédito representando um símbolo da supermodernidade, símbolo que permite o acesso, comprova a identidade e autoriza movimentos impessoais.
Neste mar de produtos, nesta tirania oral, o HOMO CONSUMIBILIS não encontra o que deseja, mas deseja tudo o que encontra.
Uma performance que trata da crise do sujeito contemporâneo imerso em “áreas exclusivas para orgias de consumo”. Áreas em expansão, cidade-mundo, cidade-shopping, cidade-oferta de mercadorias que se abate qual avalanche sobre os sujeitos, impedindo-os de se saberem como sujeitos.
O Shopping, em seu sentido amplo, diz Koolhas, tornou-se o paradigma de crescimento das cidades a nível mundial, e a cidade de Belo Horizonte não poderia escapar desse movimento geral de crescimento e subsistência da cidade enquanto shopping.
Desde os anos 70 o pensador Jean Baudrillard contestou a formação de uma sociedade baseado em vitrines e shopping centers. Na obra “Sociedade do Consumo: Mitos e Estruturas”, de 1970, o filósofo francês mergulha fundo na dinâmica dos objetos no mundo contemporâneo e os relaciona ao universo das compras: “É preciso deixar claro desde o início que o consumo é uma forma ativa de se relacionar (não só com objetos, bem como com a sociedade e o mundo), uma forma de atividade sistemática e resposta geral que sustenta nosso sistema cultural como um todo”. Ele mostra na obra de que maneira as grandes empresas forjam irrepreensíveis “desejos”, criando novas hierarquias que substituem as tradicionais diferenças de classes. O ato de comprar, de ter coisas, transforma-se dessa maneira em um novo mito tribal, a moral dos tempos modernos.
A idéia é mostrar a permanente recriação de indivíduos consumidores, permanente recriação que assegura a continuidade do sistema capitalista contemporâneo.
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Situ-Ação 2 - O Consumo e a sua Encenação

O Subvertising é uma das mais importantes formas de ação de uma vertente da guerrilha da comunicação na União Européia, Canadá e Austrália conhecido pelo nome de cultura Jamming (interferência cultural). O Subvertising é um jogo de palavras sobre a base do verbo inglês "to advertise" (fazer publicidade) e se refere à produção e difusão de antipublicidade e paródias puplicitárias.
Tal técnica pode ser vista como um desdobramento do conceito de Détournement, amplamente usado e disolvido p
ela Internacional Situacionista. A tradução para Détornement pode ser "desvio", "distanciamento", "afastamento", "descaminhos", "roubo", "rapto".
Um dos exemplos de Détournement mais conhecidos dos Situs era tomar histórias em quadrinhos americanas e substituir o conteúdo dos balões por textos revolucionários. "A Subversão é um jogo possível pelo fato das coisas poderem ser desvalorizadas", escreve Asger Jorn, em 1960, "cada elemento da cultura passada pode ser reinventado ou fragmentado".
Segundo Guy Debord, "Os dois princípios básicos do Détournement são a perda de importância de cada elemento originalmente independente (o que significa a perda completa de seu sentido original) e a organização de um novo significado que confere um sentido vivo a cada elemento. Em certos casos é possível utilizar produtos da civilização burguesa, mesmo os mais insignificantes como a puplicidade, modificando seu sentido".

"No contexto atual da propaganda de consumo, a mistificação fundamental da publicidadade é associar idéias de felicidade a objetos (televisão, móveis de jardim, automóvel etc.), rompendo aliás o vínculo natural que esses objetos possam ter com outros, para fazê-los constituir antes de mais nada um meio material de 'alta categoria'. Essa imagem imposta da felicidade constitui o caráter diretamente terrorista da publicidade".
Notas editoriais da IS nº5.
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Situ-Ação 3 - Moto_Controle_Banal_Sentido_Uno_Sem_Sentido

A Deriva é um exercício prático da Psicogeografia e, além de ser também uma forma de apreensão do espaço urbano pelo pedestre através da ação de andar sem rumo, com o objetivo de mapear os diversos comportamentos afetivos diante dessa ação de caminhar pela cidade. O termo Psicogeografia, segundo o situacionista Guy Debord é o estudo das leis do meio-ambiente geográfico e seus efeitos específicos nos sentimentos e desejos dos cidadãos de uma metrópole. A paisagem urbana, então, não seria apenas uma coleção de vias, construções de unidades de habitação, mas também um mapa emocional de seus habitantes. E a própria cidade seria neste caso uma pintura imaginária, uma coisa mental, um emaranhado de pontos e lugares que despertam lembranças e significados.
A Psicogeografia estuda o ambiente urbano, sobretudo os espaços públicos, através das Derivas. A Deriva é um modo de comportamento experimental ligado às condições da sociedade urbana: técnica de passagem rápida por ambiências variadas. A psicogeografia será então uma geografia afetiva, subjetiva, que busca cartografar as diferentes ambiências psíquicas provocadas basicamente pelas Derivas. Os mapas Psicogeográficos, realizados em função de Derivas reais, são imaginativos e subjetivos, eles apenas ilustram uma nova maneira de apreender o espaço urbano através da experiência afetiva desses espaços. Tais mapas, experimentais e rudimentares, desprezam os parâmetros técnicos habituais, pois estes não levam em consideração aspectos sentimentais, psicológicas ou intuitivos.


“Uma corpografia urbana é um tipo de cartografia realizada pelo e no corpo, ou seja, a memória urbana inscrita no corpo, o registro de sua experiência da cidade, uma espécie de grafia urbana, da própria cidade vivida, que fica inscrita mas também configura o corpo de quem a experimenta.”
CORPOGRAFIAS URBANAS, Paola Berenstein Jacques, 1996.

”Neste sentido, a compreensão de corpografias pode servir para a reflexão sobre o urbanismo, através do desenvolvimento de outras formas, corporais ou incorporadas, de se apreender o espaço urbano para, posteriormente, se propor outras formas de intervenção nas cidades. O estudo corpográfico pode ser interessante para se compreender as pré-existências corporais resultantes da experiência do espaço, para se apreender as pré-existências espaciais registradas no próprio corpo através das experiências urbanas. Esse tipo de experiência, do corpo ordinário e cotidiano, pode ser estimulada por uma prática que chamamos de errâncias. A experiência urbana mobilizadora de percepções corporais mais complexas poderia ser estimulada por uma prática de errâncias pela cidade que, por sua vez, resultaria em corpografias urbanas equivalentemente mais complexas.”
CORPOGRAFIAS URBANAS, Paola Berenstein Jacques, 1996.
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Situ-Ação 4 - Se a vida fosse simples, não teria a mínima graça...

Interferência Cognitiva em Territórios Informacionais.
Utilizar um celular para criar interferências cognitivas, inserções sutis e provocantes em torno da palavra vida.
Com um celular instalado o aplicativo java Blueshoot (ferramenta para celular que possibilita o envio de mensagens via Bluetooth para várias pessoas ao mesmo tempo, sem a utilização de senhas) são realizadas diversas Interferência em Territórios Informacionais.
As mensagens enviadas:
1- A vida? uma eterna dívida...
2- Que vida gostaríamos de viver?
3- A vida antes de todas as coisas!
Depois de receber a mensagem em forma de cartão de visita, os destinatários pode reenviar a mensagem em forma multimidia, sms ou mesmo via Bluetooth.

Segundo André Lemos “Trata-se efetivamente de uma reconfiguração do urbano, de uma nova relação entre a esfera mídiatica e o espaço urbano. Na ciberurbe, novas práticas de mobilidade comunicacional surgem criando novas relações sociais com o espaço. Espaço, mobilidade e tecnologia formam o tripé para a compreensão das mídias locativas em sua relação com a ciberurbe. Mais do que o abandono das cidades pelas tecnologias do ciberespaço, o que estamos vendo são novas práticas de uso do espaço urbano pelo deslocamento com artefatos digitais e processos de localização por redes sem fio."
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Coletivo Curto-Circuito
2011.

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